domingo, 30 de agosto de 2015
sábado, 22 de agosto de 2015
As tuas mãos...
As tuas mãos grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
- como são belas as tuas mãos pelo quanto lidaram
acariciavam ou fremiam da nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da cadeira predilecta
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente
vieste alimentando na terrível solidão do mundo
como quem junta gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah! Como os fizestes, arder, fulgir
como o milagre de suas mãos!
E é ainda, a vida que transfigura
as tuas mãos nodosas... essa chama de vida
- que transcende a própria vida
...e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.
Mario Quintana
foto Hussain Khalaf
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Espreitando a caça....
Parece papo medieval, mas é tão actualizado
Quanto o dia de amanhã.
Ser caça ou caçador, essa é a sina real
Que mais parece conto
Entre quimeras e eras, papillon já nos dizia
Que a fuga e a procura são objectivos distintos
Sinónimos de esperança.
Um de escape sem dor e o outro de conquista
Mesmo sendo ela dolente.
Tem uma máxima que diz:
Antes que o bicho te devore
Vá á caça...
Almany Sol
foto Jasna Matz
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Conquista ...
Livre não sou
Que nem a própria vida mo consente.
Mas a minha aguerrida Teimosia
É quebrar dia a dia Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade
Trago-a dentro de mim como um destino
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga,
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Nocturno a duas vozes
— Que posso eu fazer senão beber-te os olhos
enquanto a noite não cessa de crescer?
— Repara como sou jovem
como nada em mim encontrou o seu cume
como nenhuma ave poisou ainda nos meus ramos, e amo-te
bosque, mar, constelação.
— Não tenhas medo: nenhum rumor
mesmo o do teu coração, anunciará a morte;
a morte vem sempre doutra maneira
alheia aos longos, brancos corredores da madrugada.
— Não é de medo que tremem os meus lábios
tremo por um fruto de lume e solidão
que é todo o oiro dos teus olhos
toda a luz que meus dedos têm para colher na noite.
— Vê como brilha a estrela da manhã,
como a terra é só um cheiro de eucaliptos
e um rumor de água vem no vento.
— Tu és a água, a terra, o vento
a estrela da manhã és tu ainda
. — Cala-te, as palavras doem
Como dói um barco, como dói um pássaro ferido no limiar do dia.
Amo-te. Amo-te para que subas comigo à mais alta torre
para que tudo em ti seja verão, dunas e mar.
Eugénio de Andrade
foto- Adrian Line
sábado, 8 de agosto de 2015
AS MINHAS MÃOS....
As minhas mãos magritas, afiladas
Tão brancas como a água da nascente
Lembram pálidas rosas entornadas
Dum regaço de Infanta do Oriente.
Mãos de ninfa, de fada, de vidente
Pobrezinhas em sedas enroladas
Virgens mortas em luz amortalhadas
Pelas próprias mãos de oiro do sol-poente.
Magras e brancas... Foram assim feitas...
Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas...
Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!
Pra que as quero eu - Deus! - Pra que as quero eu?
Ó minhas mãos, aonde está o céu? ..
.Aonde estão as linhas do teu rosto?
Florbela Espanca,
foto-Melih ERSAHIN
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Queda....
Da minha ideia do mundo Cai....
Vácuo além de profundo
Sem ter Eu nem Ali...
Vácuo sem si-próprio, caos
De ser pensado como ser...
Escada absoluta sem degraus... Visão que se não pode ver...
Além-Deus! Além-Deus!
Negra calma...
Clarão de Desconhecido...
Tudo tem outro sentido, ó alma, Mesmo o ter-um-sentido...
Fernando Pessoa
,Sem ter Eu nem Ali...
Vácuo sem si-próprio, caos
De ser pensado como ser...
Escada absoluta sem degraus... Visão que se não pode ver...
Além-Deus! Além-Deus!
Negra calma...
Clarão de Desconhecido...
Tudo tem outro sentido, ó alma, Mesmo o ter-um-sentido...
Fernando Pessoa
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
À Luz da Lua!
À Luz da Lua!
Iamos sós pela floresta amiga
Onde em perfumes o luar se evolva
Olhando os céus, modesta rapariga!
Como as crianças ao sair da escola.
Em teus olhos dormentes de fadiga,
Meio cerrados como o olhar da rola,
Eu ia lendo essa balada antiga
Duns noivos mortos ao cingir da estola...
A Lua-a-Branca, que é tua avozinha,
Cobria com os seus os teus cabelos
E dava-te um aspecto de velhinha!
Que linda eras, o luar que o diga!
E eu compondo estes versos, tu a lelos,
E ambos cismando na floresta amiga...
António Nobre
foto- Miguel Al Reyes
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Rosa Negra
Meu coração é uma Rosa Negra
Muitos se assustam quando vê pela 1° vez
Preta Assustadora, vingativa, espinhos que machucam
Ao mesmo tempo é uma rosa suave
Todos se encantam quando a conhecem melhor Suave, doce, romântica, bela
Para mim é a rosa mais bela è negra para proteger das coisas ruins
Espinhos para esconder suas cicatrizes
Pétalas delicadas e aroma sedutor
Era branca, inocente... A vida tornou negra... Esse sou eu..
Led Russo
domingo, 2 de agosto de 2015
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
Mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer
E nada esperas de teus amigos
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais que a mão de uma criança
As guerras, as fomes, as discussões
Dentro dos edifícios provam apenas
Que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda
Alguns, achando bárbaro o espectáculo
Prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer
.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
( Carlos Drummond de Andrade ) *
sábado, 1 de agosto de 2015
Lua adversa...
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida, fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm, no secreto calendário
Que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso.
E roda a melancolia seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...
Cecília Meireles
foto- After
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