sexta-feira, 30 de março de 2018

A vida é barulhenta


A vida é barulhenta.
 Dentro ou fora de nós, nada se aquieta.
Queremos nos comunicar, exigimos respostas
 na velocidade de super-hiper-mega bytes
 contabilizamos "notificações", desejamos
 ser cutucados de volta.
Sem perceber, desaprendemos a silenciar.
 Desaprendemos a suportar a voz que cala
 e sofremos com a falta de respostas.
Desaprendemos a ser ausência.
 De vez em quando é necessário ser silêncio.
Habituar-se à própria presença
 inteirar-se de sua solidão.
Comunicar tudo sem dizer nada.

 Fabíola Simões

domingo, 18 de março de 2018

Tantas formas revestes

Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
 Desesperado Que apenas ouve o eco…
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio de um vinho herético e sagrado.

 Miguel Torga

quinta-feira, 8 de março de 2018

Então cuide bem de você...


Então, cuide bem de você.
Do que você sente, do que você faz
do que você vê e agrega.
Cuide dos seus, avalie a sua importância.
Tome conta de si, reajuste-se, pergunte-se.
Inclua o necessário.
Desligue o menos importante.
Abra mão quando for preciso.
Aumente a beleza do verbo permanecer.

 (Priscila Rôde).

terça-feira, 6 de março de 2018

Como a noite é longa


Como a noite é longa!
 Toda a noite é assim...
 Senta-te, ama, perto Do leito onde esperto.
 Vem para ao pé de mim... Amei tanta coisa...
 Hoje nada existe
 Aqui ao pé da cama Canta-me, minha ama
 Uma canção triste. Era uma princesa
 Que amou... Já não sei... Como estou esquecido!
 Canta-me ao ouvido E adormecerei...
 Que é feito de tudo? Que fiz eu de mim?
 Deixa-me dormir, Dormir a sorrir
 E seja isto o fim.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"