segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Árvores solitárias


.. .Solitárias, as árvores,exaram terra
 e sol silenciosamente
 Não pensam, não suspiram, não se queixam.
 Estendem os braços como se implorassem
com o vento soltam ais como se suspirassem
 e gemem, mas a queixa não é sua.
 Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas
 a crescer e a florir sem consciência
 Virtude vegetal viver a sós
 e entretanto dar flores.

 António Gedeão

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Se depois de eu morrer...




Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia
 Não há nada mais simples. Tem só duas datas ---
 a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
 Sou fácil de definir. Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
 Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
 Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
 Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento
. Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
 Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.

 Alberto Caeiro
foto Maria Dilar