sábado, 28 de março de 2020

Que música escutas tão atentamente que não dás por mim?

 Que música escutas tão atentamente que não dás por mim?
 Que bosque, ou rio, ou mar?
 Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui,
 mas tenho medo, medo que toda a música
 cesse e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas
 se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
 Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.

 Eugénio de Andrade

Maria Dilar
28 de março de 2017 às 00:44 · Lisboa ·

segunda-feira, 23 de março de 2020

Dou voz ao meu fado e canto até doer...


Por tanto querer amar, trago a alma dolorida…
prendendo o coração às coisas desta vida,
dei voz ao meu fado e canto até doer. .

João Murty
 (Cavaleiro de Letras Guardador de Sonhos)

domingo, 1 de março de 2020

Suplica


Agora que o silêncio é um mar sem ondas
 E que nele posso navegar sem rumo
Não respondas,ás urgentes perguntas que te fiz
 Deixa-me ser feliz assim, já tão longe de ti como de mim
 Perde-se a vida a desejá-la tanto.
 Só soubemos sofrer, enquanto,o nosso amor durou
Perde-se a vida a desejá-la tanto
 Só soubemos sofrer, enquanto
 O nosso amor,durou
Mas o tempo passou, há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

 Miguel Torga
foto Maria Dilar