terça-feira, 9 de junho de 2015

Quem abre a porta ao gato?



Quando abro a porta corre para mim
 como acorre a mulher aos braços do amante.
 Pego-lhe ao colo e acaricio-o num gesto lento
 vagarosamente, do alto da cabeça até ao fim da cauda.
 Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos, olhos semi-cerrados
Em êxtase, ronronando.
 Repito a festa, vagarosamente, do alto da cabeça até ao fim da cauda.
 Ele aperta as maxilas, cerra os olhos, abre as narinas
E rosna, rosna, deliquescente, abraça-me
E adormece.
 Eu não tenho gato, mas se o tivesse quem lhe abriria a porta
Quando eu morresse?

 António Gedeão

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