terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Não te fies do tempo nem da eternidade !


Não te fies do tempo nem da eternidade
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
 Apressa-te, amor, que amanhã eu morro
que amanhã morro e não te vejo!
 Não demores tão longe, em lugar tão secreto
 nácar de silêncio que o mar comprime, ó lábio
 limite do instante absoluto!
 Apressa-te, amor, que amanhã eu morro
 que amanhã morro e não te escuto!
 Aparece-me agora, que ainda reconheço
 a anémona aberta na tua face e em redor dos muros o vento inimigo...
 Apressa-te, amor, que amanhã eu morro
 que amanhã morro e não te digo...

 Cecília Meireles

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