Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada
da frescura que vem depois do sol
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa
com que nós a despimos
assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira,
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