Dorme a vida a meu lado, mas eu velo
(Alguém há-de guardar este tesoiro!)
E, como dorme, afago-lhe o cabelo
Que mesmo adormecido é fino e loiro.
Só eu sinto bater-lhe o coração
Vejo que sonha, que sorri, que vive;
Só eu tenho por ela esta paixão
Como nunca hei-de ter e nunca tive.
E logo talvez já nem reconheça
Quem zelou esta flor do seu cansaço...
Mas que o dia amanheça
E cubra de poesia o seu regaço!
Miguel Torga,
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