O último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção
glória, doce morte com sinfonia
E coral
Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário
Uma mulher e seu pé
Um corpo e sua memória
Um olho e seu brilho
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso
Mereceste viver mais um ano...
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