Uma linda cotovia
Libertina e mariola
Conta a lenda, certo dia
Foi presa numa gaiola.
E a linda cotovia
Costumada a vadiar
Cantou de noite e de dia
Pois não sabia chorar.
E à voz da passarada
Que, de vago, ao longe ouvia
Respondia em desgarrada
A todos entristecia.
À quarta noite passada
Já risonho o sol nascia
Morreu de dor e cansada
Essa linda cotovia.
Onde ela foi enterrada
Um cravo negro vingou
Depois disso a passarada
Nunca mais ali cantou.
Diz a lenda, ao terminar
Que certas noites se ouvia
Ao longe, triste, a cantar
Uma linda cotovia.
Manuel de Andrade
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