Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo, medo que toda a música
cesse e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.
Eugénio de Andrade
Maria Dilar
28 de março de 2017 às 00:44 · Lisboa ·
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo, medo que toda a música
cesse e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.
Eugénio de Andrade
Maria Dilar
28 de março de 2017 às 00:44 · Lisboa ·
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