sexta-feira, 29 de abril de 2016

A Inigualável


Ai, como eu te queria toda de violetas
 E flébil de cetim... Teus dedos longos, de marfim,
 Que os sombreassem jóias pretas...
 E tão febril e delicada Que não pudesses dar um passo
 Sonhando estrelas, transtornada
Com estampas de cor no regaço...
 Queria-te nua e friorenta, Aconchegando-te em zibelinas
 Sonolenta, Ruiva de éteres e morfinas...
 Ah! que as tuas nostalgias fôssem guisos de prata
 Teus frenesis, lantejoulas; E os ócios em que estiolas,
 Luar que se desbarata... Teus beijos, queria-os de tule
Transparecendo carmim - Os teus espasmos, de seda...
 Água fria e clara numa noite azul,
 Água, devia ser o teu amor por mim...

 Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'

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