quarta-feira, 15 de julho de 2015

Dantes eu queria !


Dantes eu queria
 Embeber-me nas árvores, nas flores
 Sonhar nas rochas, mares, solidões
Hoje não, fujo dessa ideia louca:
Tudo o que me aproxima do mistério
Confrange-me de horror
 Quero hoje apenas
 Sensações, muitas, muitas sensações
 De tudo, de todos neste mundo — humanas
 Não outras de delírios panteístas
 Mas sim perpétuos choques de prazer
 Mudando sempre
 Guardando forte a personalidade
 Para sintetizá-las num sentir
Quero Afogar em bulício, em luz, em vozes

 — Tumultuarias [cousas] usuais — o sentimento da desolação
 Que me enche e me avassala. Folgaria De encher num dia, [...] num trago
 A medida dos vícios, ainda  mesmo
 Que fosse condenado eternamente — Loucura! — ao tal inferno
 A um inferno real

 Fernando Pessoa
foto // Kuong Leong

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