sexta-feira, 29 de maio de 2015

POEMA A "NEFERTARI" esposa de Ramsés II

 A Princesa rica em encantos
Senhora do afecto
Meiga de amor
Dona de Duas Terras
Poetisa de lindo semblante
A maior do harém do Senhor do palácio
Tudo que dizeis será feito para vós
Todas as coisas bonitas de acordo com vosso desejo
Todas as vossas palavras trazem alegria á face
Por isso os Homens adoram ouvir tua voz.


Poema Egípcio-extraído de um papiro de 3000 anos

Copiado do google












quarta-feira, 27 de maio de 2015

Deu-me Deus bodas vermelhas....




Deu-me Deus bodas vermelhas
 E palavras como abelhas
 Esquecendo-se de mim.
 Deu-me a paz de alguns minutos
 E palavras como frutos
 Esquecendo-se de mim.
 Deu-me as ideias formosas
 E palavras como rosas
 Esquecendo-se de mim.
 Deu-me a voz que persuade
 Muito mais do que a verdade
 Esquecendo-se de mim.
 Mas um dia, veio a dor
Veio o castigo sem fim
 Veio esse estranho fulgor
 Apartando o bem do mal
 E vi que Deus afinal
 Já se lembrava de mim...

 Pedro Homem de Mello

terça-feira, 26 de maio de 2015

Retrato...


Eu não tinha este rosto de hoje
Assim calmo, assim triste, assim magro
Nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo
 Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas
Frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.
 Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil
Em que espelho ficou perdida a minha face?

 Cecília Meireles
Foto-Victor Zamanski

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Motivo!


Eu canto porque o instante existe
 e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
 Irmão das coisas fugidias,
 não sinto gozo nem tormento.
 Atravesso noites e dias no vento.
 Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei.
 Não sei se fico ou passo.
 Sei que canto.
 E a canção é tudo.
 Tem sangue eterno a asa ritmada.
 E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.


Cecília Meireles

sábado, 23 de maio de 2015

SOLIDÃO...



Sim, minha força está na solidão.
 Não tenho medo nem de chuvas tempestivas
Nem das grandes ventanias soltas
Pois eu também sou o escuro da noite.

 Clarice Lispector

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Musica que não soubeste tocar...


Música do fogo, tu não soubeste tocar.
 Lançaste sobre a minha casa um pano negro
 O que é este opaco em toda a parte?
 É o opaco que tapou o meu céu.
 O que é este silêncio em toda a parte?
 É o silencio que calou o meu canto.......

 Henri Michaux

quinta-feira, 21 de maio de 2015

SEREIA...


Agora as sereias possuem uma arma
Ainda mais fatal do que seu canto
Ou seja, seu silêncio...
Talvez fosse possível escapar do seu canto
Mas do seu silêncio, por certo, jamais.

 Franz Kafka

terça-feira, 19 de maio de 2015

Verdade....


A porta da verdade estava aberta mas
Só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade
Porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam
Rebentaram a porta
Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso onde a verdade resplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas
Mas carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

 Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 18 de maio de 2015

NIRVANA !


Viver assim: sem ciúmes, sem saudades
 Sem amor, sem anseios, sem carinhos
 Livre de angústias e felicidades
Deixando pelo chão rosas e espinhos;
 Poder viver em todas as idades
 Poder andar por todos os caminhos
 Indiferente ao bem e às falsidades
 Confundindo chacais e passarinhos
 Passear pela terra, e achar tristonho
 Tudo que em torno se vê, nela espalhado
 A vida olhar como através de um sonho
 Chegar onde eu cheguei, subir à altura
 Onde agora me encontro - é ter chegado
 Aos extremos da Paz e da Ventura!

 Antero de Quental, in "Sonetos"

domingo, 17 de maio de 2015

Sofro e Sonho....


"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes
Não me resigno, porque a resignação é para os nobres;
Não me calo, porque o silêncio é para os grandes
 E eu não sou forte, nem nobre, nem grande
 Sofro e sonho.

 Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista
E entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas
E a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor
A minha ideia de os achar belos.
 Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos.
" "Eu não sou pessimista, sou triste."

 Fernando Pessoa

sábado, 16 de maio de 2015

Liberdade!


— Liberdade, que estais no céu...
 Rezava o padre-nosso que sabia
 A pedir-te, humildemente
 O pio de cada dia.
 Mas a tua bondade omnipotente
 Nem me ouvia. —

 Liberdade, que estais na terra...
 E a minha voz crescia de emoção
 Mas um silêncio triste sepultava
 A fé que ressumava da oração


 Até que um dia, corajosamente
 Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado
 Saborear, enfim, o pão da minha fome
 Liberdade, que estais em mim
 Santificado seja o vosso nome.

 Miguel Torga,
foto- Manuel Barca                                                                                     

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua.
 Fases de andar escondida, fases de vir para a rua...
 Perdição da minha vida!

 Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha
Fases que vão e vêm, no secreto calendário
Que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso
 E roda a melancolia seu interminável fuso!
 Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua...)
 No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser tua
 E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...

 Cecília Meireles
foto- Safa Pirshini

Um anjo vem ...



Um anjo vem todas as noites:
Senta-se ao pé de mim
E passa sobre meu coração a asa mansa
Como se fosse meu melhor amigo.
 Esse fantasma que chega e me abraça
(asas cobrindo a ferida do flanco)
É todo o amor que resta entre ti e mim, e está comigo.

 Lya Luft

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Permite...


Permite que eu volte
o meu rosto para um céu maior
que este mundo .
E aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

 Cecília Meireles

terça-feira, 12 de maio de 2015

Entre o luar e a folhagem

Entre o luar e a folhagem
Entre o sossego e o arvoredo
Entre o ser noite e haver aragem
Passa um segredo
Segue-o minha alma na passagem
Ténue lembrança ou saudade
Princípio ou fim do que não foi
Não tem lugar, não tem verdade
Atrai e dói
Segue-o meu ser em liberdade.
Vazio encanto ébrio de si
Tristeza ou alegria o traz?
O que sou dele a quem sorri?
Nada é nem faz
Só de segui-lo me perdi

Fernando Pessoa




domingo, 10 de maio de 2015

Ruas de Lisboa



Ruas da minha cidade
Veias que o meu sangue abraça
E põe cravos de ansiedade
Na lapela de quem passa.
 Ruas da minha cidade
Onde perco o coração.
Poema diz a verdade!
 Diz a verdade canção!
 Ruas da minha cidade
Amanhecendo a firmeza duma ponte
Entre a saudade e um Abril à portuguesa.
Ruas da minha cidade onde vingo as minhas asas.
 O meu nome é liberdade e moro em todas as casas.
 Ruas da minha cidade
Praças da minha alegria onde antes da claridade
Era noite todo o dia.
 Ruas da minha cidade
Onde o velho é sempre novo: as ruas não têm idade
Porque são todas do povo.
 Ruas da minha cidade becos de ganga puída.
 Oficinas da verdade dos operários desta vida
. Ruas da minha cidade janelas do meu olhar
Onde os pardais da amizade à tarde vêm poisar.
 Ruas da minha cidade rasgadas por minha mão.
 A gente passa à vontade quando pisa o nosso chão.
 Ruas da minha cidade
 Aonde eu quero morrer
Com cravos de eternidade
 Dos meus olhos a nascer. *

Joaquim Pessoa

sábado, 9 de maio de 2015

Recebe este beijo !




Recebe este beijo
 E te deixando a partir de agora
 Então, deixa-me  contar:
 Tu não estás errado, tu que consideras
 Que meus dias foram um sonho;
 Mesmo que a Esperança tenha sumido
 Em uma noite, ou em um dia,
 Numa visão ou em nada mais
 É, portanto, o que menos se perdeu?
 Tudo o que vemos ou transparecemos
 É nada além de um sonho dentro de um sonho

. Edgar Allan Poe

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Esperança


Tantas formas revestes, e nenhuma
 Me satisfaz!
 Vens às vezes no amor
E quase te acredito.
 Mas todo o amor é um grito
 Desesperado
 Que apenas ouve o eco...
 Peco por absurdo humano:
 Quero não sei que cálice profano
 Cheio de um vinho herético
 E sagrado.

 Miguel Torga




quinta-feira, 7 de maio de 2015

Noite fria na janela...


Noite fria,na janela bate o vento
O  silêncio da noite actua dentro de mim
Lanço ao vento um desejo
Fecho os olhos e faço um pedido
Que o meu AMOR nunca se esqueça de mim
Seus olhos são como um ponto
Para mim,um ponto sem fim
O teu olhar
Me diz tantas coisas loucas
Que quando chega perto
A minha alma não me deixa
Mentir,pensar em você
Mas faz viva,o som da tua voz
É o meu vicio me destrói
E arrasa comigo,pois eu não ligo
Porque o amor anda comigo
E em seus olhos eu vejo o universo
Que me desfaz em versos
Somente para ti...

 Neici Gambôa
foto- Todd Wall

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Em todas as ruas te encontro


Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco
Conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura
Que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura
E bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura
Tanto tão perto tão real que o meu corpo se transfigura
E toca o seu próprio elemento num corpo que já não é seu
Num rio que desapareceu onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco

 Mário Cesariny, in "Pena Capital"

terça-feira, 5 de maio de 2015

Refúgio...


 Só estou, e só fico
 A solidão é meu refúgio
Meu instante de meditação,
 De escutar meu coração
 No silêncio mudo
 Transcendo o mundo
 Em absoluta união
 Numa contemplação
 Que foge a qualquer compreensão.

 Inoema Nunes Jahnke
foto-Spencer Tan 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Máscara...


Para quem sabe amá-lo, o mundo de sua máscara de infinito
Torna-se pequeno como uma canção,como um beijo do eterno
 Existo...que perpétua surpresa é a vida!
Lemos mal o mundo e logo dizemos que o mundo nos engana.
Quantas barricadas o pensamento do homem ergue contra si próprio.
Se lanço minha própria sombra no caminho
É porque há uma lâmpada em mim que não se acendeu...

 Tagore

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A Forma Justa


Sei que seria possível construir o mundo justo
 As cidades poderiam ser claras e lavada
 Pelo canto dos espaços e das fontes
 O céu o mar e a terra estão prontos
 A saciar a nossa fome do terrestre
 A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
 Cada dia a cada um a liberdade e o reino
 Na concha na flor no homem e no fruto
 Se nada adoecer a própria forma é justa
 E no todo se integra como palavra em verso
 Sei que seria possível construir a forma justa
 De uma cidade humana que fosse
 Fiel à perfeição do universo


 Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
 E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

 Sophia de Mello Breyner Andresen,
foto Adrian Donoghue