quinta-feira, 28 de julho de 2016

Anseios insaciáveis...


Sou feita de caminhos indecifráveis
 Confidências inconfidentes
 Anseios insaciáveis
 Sonhos inalcansáveis e amores infindáveis
 De uma substância rara, com uma pitada de flor
 Cheirinho suave, e intensidade de amor
 Na maioria das vezes você não vai me entender
 Meu coração tem razões que a própria razão ainda não compreende
 Talvez sejam longes demais os caminhos
 por onde vagueia minha mente além daquilo
 o que os teus olhos podem alcançar
 Porque eu ainda busco o infinito
 ainda perco tempo a viajar
 Definitivamente, não me poderás entender
 Eu ainda sorrio em olhar as estrelas
E isso tudo é surreal demais para ti
Apenas aceita-me e me ama
 contenta-te em me fazer feliz !

 Agny Tayná Mota

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Hoje de manhã saí muito cedo.



Hoje de manhã saí muito cedo,
 Por ter acordado ainda mais cedo
 E não ter nada que quisesse fazer... Não sabia que caminho tomar
 Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
 E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
 Assim tem sido sempre a minha vida,
e Assim quero que possa ser sempre -- Vou onde o vento me leva e não me
 Sinto pensar.

 Alberto Caeiro

sexta-feira, 22 de julho de 2016

De longe te hei-de amar


De longe te hei-de amar
da tranquila distância em que o amor é saudade
 e o desejo, constância.
 Do divino lugar onde o bem da existência
 é ser eternidade e parecer ausência.
 Quem precisa explicar o momento e a fragrância da rosa
 que persuade sem nenhuma arrogância?
 E, no fundo do mar, a estrela, sem violência
 cumpre a sua verdade, alheia à transparência.

 Cecília Meireles

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Os meus sonhos...


Contemplo o lago mudo
 Que uma brisa estremece.
 Não sei se penso em tudo
 Ou se tudo me esquece.
 O lago nada me diz,

 Não sinto a brisa mexê-lo
 Não sei se sou feliz

 Nem se desejo sê-lo.
 Trémulos vincos risonhos
 Na água adormecida.
 Por que fiz eu dos sonhos

A minha única vida?

 Fernando Pessoa, 4-8-1930

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Andei pelos caminhos da vida...


Andei pelos caminhos da Vida.
 Caminhei pelas ruas do Destino procurando meu signo.
 Bati na porta da Fortuna,
 mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama, falou que não podia atender
Procurei a casa da Felicidade,
 a vizinha da frente me informou
 que ela se tinha mudado sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
 Ela fez- me entrar: deu-me vestes novas
 perfumou-me os cabelos, fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.

 Cora Coralina

terça-feira, 5 de julho de 2016

Maria Dilar Fado Negro Negro Fado

Não te fies no tempo, nem da eternidade


Não te fies do tempo nem da eternidade que as nuvens
 me puxam pelos vestidos, que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
 Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te vejo!

 Não demores tão longe, em lugar tão secreto
 nácar de silêncio que o mar comprime, ó lábio, limite do instante absoluto!
 Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te escuto!

 Aparece-me agora, que ainda reconheço a anémona aberta na tua face
 e em redor dos muros o vento inimigo...
 Apressa-te, amor, que amanhã eu morro, que amanhã morro e não te digo...

 Cecília Meireles,