terça-feira, 31 de maio de 2016

Se houver um Céu dos Cães...


«Se houver, como dizem que há, um Céu dos Cães, é lá que quero ter assento, a ver a luz a minguar no horizonte, com a sua palidez de crepúsculo num retrato da infância. Hei-de então bater à porta e pedir para entrar, e sei que eles virão, contentes e leves, receber-me como se o tempo tivesse ficado quieto nos relógios e houvesse apenas lugar para a ternura, carícia lenta a afagar o pêlo molhado pela chuva. Então poderemos voltar a falar de felicidade e de mim não me importarei que digam: teve vida de cão, por amor aos cães. »

 Amados Cães de- José Jorge Letria

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Para não deixar de amar-te nunca...


Saberás que não te amo e que te amo
 pois que de dois modos é a vida
 a palavra é uma asa do silêncio
o fogo tem a sua metade de frio.
 Amo-te para começar a amar-te
 para recomeçar o infinito
 e para não deixar de amar-te nunca:
 por isso não te amo ainda.
 Amo-te e não te amo
 como se tivesse nas minhas mãos
 a chave da felicidade e um incerto destino infeliz
O meu amor tem duas vidas para amar-te.
 Por isso te amo quando não te amo
 e por isso te amo quando te amo.

 Pablo Neruda,

sábado, 21 de maio de 2016

Reflexo ...


Se sou amado
 quanto mais amado
 mais correspondo ao amor.
 Se sou esquecido
 devo esquecer também
 Pois amor é feito espelho
:tem que ter reflexo.

 Pablo Neruda

sábado, 14 de maio de 2016

O meu coração perdi-o...


O meu coração eu perdi-o
 Não era meu entreguei-o
 Às tristes águas do rio
 Para o levar ao teu seio

 E o rio que ao longe chora
 Foi-to levar a correr
 E por mais que eu faça, agora
 Já não o sinto bater.

 Meu coração descontente
 Meu coração sofredor
 Lancei-o à água corrente
 Para o levar ao meu amor

 E o meu amor que sorria
 Como uma rosa em botão
 Chora desde aquele dia
 Em que viu o meu coração.

 Alfredo Brochado


sexta-feira, 13 de maio de 2016

Não sei...


Não sei nem mais dizer
 O que sinto por você...
Se é amor...
 Se é amizade...
 Se é paixão...
Mas suspeito fortemente
 Que seja tudo isso junto!

 Augusto Branco

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Quero...

Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
 Voltar.
 E sentar-me um instante
 Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.

 Sophia de Mello Breyner Andresen