sexta-feira, 29 de abril de 2016

Adagio - Sarah Brightman

A Inigualável


Ai, como eu te queria toda de violetas
 E flébil de cetim... Teus dedos longos, de marfim,
 Que os sombreassem jóias pretas...
 E tão febril e delicada Que não pudesses dar um passo
 Sonhando estrelas, transtornada
Com estampas de cor no regaço...
 Queria-te nua e friorenta, Aconchegando-te em zibelinas
 Sonolenta, Ruiva de éteres e morfinas...
 Ah! que as tuas nostalgias fôssem guisos de prata
 Teus frenesis, lantejoulas; E os ócios em que estiolas,
 Luar que se desbarata... Teus beijos, queria-os de tule
Transparecendo carmim - Os teus espasmos, de seda...
 Água fria e clara numa noite azul,
 Água, devia ser o teu amor por mim...

 Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'

domingo, 24 de abril de 2016

Silenciosas lembranças


De que são feitos os dias?
 De pequenos desejos
Vagarosas saudades
 Silenciosas lembranças.
 Entre mágoas sombrias
 Momentâneos lampejos
 Vagas felicidades

 Inatuais esperanças.
 De loucuras, de crimes
De pecados, de glórias
 Do medo que encadeia
 Todas essas mudanças.

 Dentro deles vivemos
 Dentro deles choramos
 Em duros desenlaces
 E em sinistras alianças.

Cecília Meireles

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Em teu corpo, farei uma sinfonia musical...



Nas cinco oitavas do piano
Eu tocarei você,
Como um pianista, toca uma musica imortal
E nas sete notas, que estão escondidas  em teu corpo
Farei uma sinfonia musical



 Palavras de Sandro kretus
 Foto- Dmitry Rogozhkin

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Dançarina do Abismo.


Liberdade é quando sinto
corpo e a alma despidos de pudores
 é quando posso voar
 dar asas á imaginação
 libertar os sentidos abraçar o espaço do nada
 e me sentir invadida pelo tudo
 deixar o vento acariciar a pele
despenteando os cabelos
 embalada pelo som do silêncio
 estar a beira do abismo
e dançar, dançar...

 Júlia

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Algemas - Maria Dilar


Escravos errantes da vida
 E da angustia de viver
Somos a imagem esbatida
 Do que nós quisemos ser
 Corta-se embora à corrente
 Que nos prende ao que é vulgar
 E afinal tudo é diferente
 Do que queremos alcançar

 Sem saber porque vivemos
 No mistério de existir
Nem mesmo ao sorrir esquecemos
 A mentira que é sorrir
 Desde sempre que conheço
 Porque a vida me ensinou
Que o riso é sempre o começo
 Do sorriso que findou

 Prendo o mundo nos meus braços
 Quando me abraças nos teus
 E por momentos escassos
 A terra dá-nos os céus
 A vida fica suspensa
 No nada que a fez nascer
 E esse nada recompensa
 Na tortura de viver

 Álvaro Duarte Simões

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Meu pé de romã ...


Lindo, com folhagens exuberantes
 As flores desabrochando em cachos
 Os frutos sendo formados um a um
 E os pássaros de galho em galho
De flor em flor Á tarde e pela manhã
 A cantar, a pular, a brincar
 No meu encantado pé de romã.
 Romanzeiro que mais parece
Uma árvore de natal
 Com seus frutos multicores
 Às vezes pardos, outras vezes amarelados
E também verdes e avermelhados.
 Quando pequenos; bem fechados
Quando maduros; explodindo em frestas
Mostram suas sementes vermelhas e inchadas
Que soltam o néctar suave e adocicado
 A alimentar os passarinhos
E fazer bem aos vizinhos.
 Oh! Meu pé de romã
Planta nobre e singela
 Da natureza a mais bela
Uma árvore colorida
Que faz sentir bem às gargantas
 Faz soar a mais fina voz.
Não saia do meio de nós!...

Rosa Ângela Falqueto

terça-feira, 12 de abril de 2016

Enya - Only Time (Tradução)


O tempo não para.
Só a saudade é que faz as coisas
pararem no tempo...

QUANDO...


Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
 Continuará o jardim, o céu e o mar,
 E como hoje igualmente hão-de bailar
 As quatro estações à minha porta.
 Outros em Abril passarão no pomar
 Em que eu tantas vezes passei,
 Haverá longos poentes sobre o mar
 Outros amarão as coisas que eu amei.
 Será o mesmo brilho, a mesma festa,
 Será o mesmo jardim à minha porta,
 E os cabelos doirados da floresta,
 Como se eu não estivesse morta.

 Sophia de Mello Breyner Andresen,

quinta-feira, 7 de abril de 2016

A minha casa...


Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
 Com janelas de aurora e árvores no quintal
 Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
 E ao crepúsculo fiquem cinzentas
 como a roupa dos pescadores.
 O que desejo é apenas uma casa.
 Em verdade, Não é necessário que seja azul
 nem que tenha cortinas de rendas.
 Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
 Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.
 Sem nome, porém honrada
 Senhor. Só não dispenso a árvore
 Porque é a mais bela coisa que nos deste e a menos amarga.
 Quero de minha janela sentir os ventos pelos caminhos
   E ver o sol.....

 Manoel Barros

Maria Dilar - Casinha Pequenina

domingo, 3 de abril de 2016

Apesar das ruinas...


Apesar das ruínas e da morte
 Onde sempre acabou cada ilusão
 A força dos meus sonhos é tão forte,Que de tudo renasce a exaltação
 E nunca as minhas mãos ficam vazias.

 Sophia de Mello Breyner Andresen,