sexta-feira, 27 de novembro de 2015

SAUDADES...


Leva este ramo, Pepita, de saudades portuguesas; é flor nossa, e tão bonita não na há outras devesas. Seu perfume não seduz não tem variado matiz, vive à sombra, foge à luz, as glórias d’amor não diz; mas na modesta beleza de sua melodia é tão suave tristeza, inspira tal simpatia!… E tem um dote esta flor que de outra igual não se diz: não perde vício ou frescor quando a tiram da raiz. Antes mais e mais floresce com tudo o que as outras mata; até às vezes mais cresce na terra que é mais ingrata. Só tem um cruel senão, que te não devo esconder: plantada no coração, toda outra flor faz morrer. E, se o quebra e despedaça com as raízes mofinas, mais ela tem brilho e graça, é como a flor das ruínas. Não, Pepita, não ta dou… Fiz mal em dar-te essa flor, que eu sei o que me custou tratá-la com tanto amor.

Almeida Garrett

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