quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Só eu Sinto Bater-lhe o Coração


Dorme a vida a meu lado, mas eu velo
(Alguém há-de guardar este tesoiro!)
 E, como dorme, afago-lhe o cabelo
Que mesmo adormecido é fino e loiro.

 Só eu sinto bater-lhe o coração
 Vejo que sonha, que sorri, que vive;
 Só eu tenho por ela esta paixão
 Como nunca hei-de ter e nunca tive.

 E logo talvez já nem reconheça
 Quem zelou esta flor do seu cansaço...
 Mas que o dia amanheça
 E cubra de poesia o seu regaço!

 Miguel Torga,

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