quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Chove...


Chove.
Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego
 Chove.
O céu dorme.
Quando a alma é viúva
 Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove.
 Meu ser (quem sou) renego…
 Tão calma é a chuva que se solta no ar
 (Nem parece de nuvens) que parece
 Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove.
Nada apetece…
 Não paira vento, não há céu que eu sinta.
 Chove longínqua e indistintamente
 Como uma coisa certa que nos minta
 Como um grande desejo que nos mente.
Chove.
 Nada em mim sente…

 Fernando Pessoa

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